Existe um personagem discreto, mas importante, nos processos bioquímicos de transporte do ferro, mineral essencial para a produção de energia, síntese de DNA e formação da hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio.
Produzida pelo fígado, a ferritina deve estar, idealmente, presente no organismo em dosagem entre 30 e 300 ng/ml para mulheres, e 30 a 350 ng/ml para homens. Ela é um importante indicador monitorado em exames de rotina. E quando seus níveis apresentam alterações, elas costumam servir como alerta para uma investigação médica complementar.
Níveis baixos de ferritina podem indicar deficiência de ferro, elevando o risco de anemia devido à menor produção de hemoglobina nos glóbulos vermelhos. Essa deficiência pode ser causada por ingestão alimentar inadequada, problemas de absorção ou perdas sanguíneas não detectadas, como em casos de úlceras ou tumores no trato digestivo.
Tendência perigosa
Por outro lado, em entrevista à coluna ViverBem, da Folha de S. Paulo, o hepatologista João Marcello de Araújo Neto, professor da UFRJ, observa um aumento frequente nos resultados de exames com ferritina elevada, o que gera preocupação, pois o excesso de ferro é tóxico e pode se depositar em órgãos como coração e fígado, prejudicando seu funcionamento e, em casos extremos, levando à cirrose.
Embora a hemocromatose, uma condição hereditária rara que causa absorção excessiva de ferro, seja uma preocupação, o professor Araújo Neto aponta que a elevação da ferritina está frequentemente associada a condições mais prevalentes como obesidade e doença gordurosa hepática.
Essas doenças desencadeiam um processo inflamatório crônico, o que, segundo o especialista, causa um aumento nos níveis de ferritina sem necessariamente indicar um excesso de ferro no organismo.
Outras condições inflamatórias crônicas, como o lúpus, e até mesmo infecções agudas, como a gripe, podem produzir o mesmo efeito. Níveis de ferritina acima de 1000 ng/ml, contudo, aumentam a suspeita de hemocromatose ou absorção exagerada de ferro.
É importante compreender que a ferritina é apenas um marcador, e a avaliação de um possível excesso tóxico de ferro requer a análise de outros exames, como o ferro livre no plasma e o índice de saturação de transferrina, proteína transportadora de ferro. Conforme explica o professor Araújo Neto, o corpo humano possui mecanismos limitados para eliminar o ferro, o que provavelmente remonta a adaptações evolutivas.
Em muitos casos, a alteração na ferritina reflete a inflamação causada pelo acúmulo de gordura corporal. Nesses cenários, a solução para normalizar os níveis de ferritina envolve a adoção de um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e tratamento da obesidade.
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